– por Carolina Carvalho e Lucas Meireles
Uma proposta apresentada em Março no portal do Senado Federal tem ameaçado de extinção os cursos da área de humanas nas universidades públicas. Segundo o texto, estes “são cursos baratos que facilmente poderão ser realizados em universidades privadas”.
Apresentada por Thiago Turetti, a ideia legislativa (como são chamadas as propostas para criar novas leis ou alterar as leis atuais enviadas ao Senado por pessoas comuns) atualmente conta com cerca de 7,3 mil apoiadores. Caso chegue a 20 mil apoios, a ideia se tornará uma Sugestão Legislativa e será debatida pelos Senadores.
Confira o texto completo da ideia legislativa:
A proposta segue a linha de países como o Japão, onde 26 das 60 universidades públicas optaram por cancelar os cursos de humanas, após receberem uma carta do ministro da educação, Hakuban Shimomura, pedindo para que as instituições “sirvam áreas que contemplem as necessidades da sociedade”.
Segundo o professor do curso de Letras, João Carlos Lopes (DLC), a proposta é mais uma tentativa de criar uma dicotomia entre as ciências exatas e as ciências humanas. Na opinião do professor, enquanto as exatas são tradicionalmente consideradas a “verdadeira ciência” por produzirem bens de consumo, as humanas são renegadas ao papel de “ciências menores”, por produzirem reflexões e cultura.
“Isso é um absurdo sem tamanho. Você querer dividir o conhecimento humano entre o que é prioritário e o que é menor. Como se você tivesse uma diferença, uma priorização que já existe no mundo, isso é um fenômeno mundial, de investir mais dinheiro naquelas ditas ciências que vão gerar bens de consumo e tecnologias palpáveis. O conhecimento, a cultura, a erudição, ou seja, você gerar conhecimento, gerar reflexão, não é interessante, você não vai trazer um bem imediato, não vai gerar uma máquina, um aparelho. Isso é mais uma tentativa de desvalorizar o que já é desvalorizado”, afirmou o docente.
De acordo com a professora do curso de Educação, Regina Ribeiro (DTPE), esta medida “vem de um grupo conservador que quer impedir uma formação crítica na universidade”. Para a docente, nem mesmo o argumento de que isto geraria economia ao Estado é verdadeiro.
“O argumento da economia não se justifica porque não é gasto, é investimento. Faz parte de uma política pública de educação prover conhecimento em todas as áreas, não só em uma”, explicou Ribeiro.
O coordenador do curso de Ciências Sociais e um dos idealizadores do I Colóquio das Humanidades, professor Marcelo Maciel, ressaltou a importância do estudos da humanidades nas universidades. Segundo o professor, é necessário dar liberdade de escolha de atividades profissionais aos indivíduos.
“Indivíduos tolhidos não vão ser bons trabalhadores. Para a sociedade, como que vai se abafar, se extinguir a vocação de um indivíduo? Ele quer ser artista plástico mas não tem uma escola onde gratuitamente ele pode estudar ele vai ter que acalentar essa frustração. Para adotar uma profissão mais produtiva, mais rentável, essa sim vai oferecer uma vaga na universidade pública, mas esse cara vai ser um trabalhador produtivo? Eficiente, ou não? Uma boa sociedade é essa, em que os homens atendem sua necessidade não só de estar numa posição adequada no sistema, mas estar feliz, estar realizado”, destacou Marcelo.
Opinião dos alunos
Percorremos o pátio do ICHS para perguntar aos alunos de cursos a sobre qual a importância dos cursos de humanas na universidade pública. Confira no vídeo abaixo:
Contra-proposta
Em Abril surgiu, no mesmo Portal e-Cidadania, uma proposta pedindo a manutenção dos cursos de humanas nas universidades públicas. Segundo o texto, “optar por estudar em universidades públicas ou privadas deve ser uma escolha do cidadão”.
A ideia legislativa, de autoria de Acsa da Costa Silva, do Pará, já conta com mais de 50 mil apoiadores (cerca de 6 vezes que a proposta que pede a exclusão do ensino de humanidades), superando os 20 mil apoios necessários para que ela se torne uma Sugestão Legislativa e seja debatida pelos Senadores.
Confira o texto completo da ideia legislativa:
Qualquer cidadão pode sugerir uma ideia legislativa, para enviar basta acessar o Portal e-Cidadania, do Senado Federal.
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